Equipe de voluntários
Irmã Ana Maria Diretora do abrigo idosos Juvino Barreto de Natal-RN
É PRECISO TER INCLINAÇÃO NATURAL PARA CONSEGUIR AJUDAR AO OUTRO
De acordo com a lei, apenas os "profissionais voluntários" podem trabalhar em ONGs e entidades sem fins lucrativos, por exemplo. "O voluntário não pode vir quando quiser: tem que preencher uma ficha dizendo o que vai fazer, quando vai fazer. Muitas pessoas têm o desejo, mas quando percebem o compromisso, talvez por falta de tempo, somem", explica a irmã Ana Maria, que dirige o abrigo de idosos Juvino Barreto há sete meses.
Hoje o abrigo conta com cerca de dez voluntários, a maioria médicos. Mas, de acordo com Ana Maria, os mais de cem funcionários recebem tão pouco que acabam sendo, também, voluntários. "Tem que ter amor ao que faz, tem que saber se colocar no lugar do outro, se não se torna um profissional infeliz". Para a freira, a natureza de cada um está à frente da questão religiosa quando o assunto é voluntariado. "A religião pode ajudar, mas a palavra-chave é o amor". Tereza Galvão concorda. "A gente não aprende a ser voluntário, nasce voluntário". As duas também convergem em um ponto: o altruísmo, na verdade, é uma forma de fazer bem a si mesmo. "Quando estou fazendo alguma coisa por alguém, sinto uma coisa diferente na minha pessoa. Fico mais alegre. É um amor diferente", tenta definir Tereza.
Alguns estudos mostram que o trabalho voluntário pode promover um sentimento de realização, melhorar a auto-imagem e servir como um antídoto para o estresse e a depressão. Esse tipo de atividade também está associado à saúde e à felicidade, e no caso de pessoas com problemas de inserção social ou falta de raízes, por exemplo, ao resgate da autoestima e da identidade. Também não se pode esquecer a possibilidade de crescimento interior do trabalho voluntário. "A gente aprende lições de vida a cada minuto por aqui", exagera Tereza Galvão.
A especialista em voluntariado Mônica Corullón estudou os motivos que mobilizam as pessoas em direção ao trabalho voluntário, e encontrou dois itens fundamentais: o de cunho pessoal, que tem relação com uma inquietação interior que seria preenchida por doação de tempo e esforço, e o de cunho social, que diz respeito ao comprometimento com uma causa e à luta por um ideal. Há também a noção moral de que o altruísmo e solidariedade são valores nobres, a ideia de salvação pela caridade, do ponto de vista dos religiosos, e a cultura da caridade.
Ela também concluiu que esse tipo de atividade no Brasil mudou desde o fim do regime militar. "Um grande sinal de que algo novo estava surgindo foi o impacto que teve a "A Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida", no início dos anos 90, liderada pelo sociólogo Herbert de Souza, o nosso saudoso Betinho.
As pessoas, muitas delas com raízes na militância contra o regime militar, começavam a perceber que era possível realizar ações socialmente relevantes, sem precisar esperar o advento dessa nova sociedade, um sonho cada vez mais distante", escreveu no artigo Voluntariado, participação e democracia.
Outra mudança, segundo ela, é a visão de que o ajudado não é mais visto como um sujeito dependente, que deve ser comandado, e que o voluntário não se engaja apenas para exercitar a caridade, mas para exercer a cidadania na defesa dos seus direitos e dos outros. Por isso aumentou a participação cívica na forma de abaixo-assinados, interferência nas políticas públicas, entre outros.
As ações voltadas para a comunidade no país, no entanto, ainda engatinham, talvez pela herança cultural de relação de exploração dos colonizadores, talvez porque ainda sejam vistas com preconceito, ligadas a pessoas desocupadas.
De acordo com Mônica Corullón, a noção de cidadania e a sensação de ser agente atuante da história, cada vez mais presentes na sociedade, podem mudar esse quadro
Fonte: nominuto.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário