segunda-feira, 19 de outubro de 2009

AGRICULTURA FAMILIAR



ATÉ 90% DOS ALIMENTOS BÁSICOS CONSUMIDOS NO RN VEM DA AGRICULTURA FAMILIAR

José Vicente da Silva, 55 anos, sempre trabalhou com agricultura. Há nove anos, ele aprendeu a criar abelhas e depois se envolveu com produção de polpas de frutas, além de manter uma pequena lavoura com hortaliças, 70 galinhas e três cabeças de gado. Com ajuda da esposa, das três filhas e dos três genros, ele consegue se manter, colocar os produtos no mercado e ter uma perspectiva otimista nos negócios. São características comuns aos agricultores familiares, considerados responsáveis por conferir segurança alimentar no país. No Rio Grande do Norte, a área cultivada por eles é de aproximadamente um milhão de hectares – ou um milhão de campos de futebol -, de acordo com o Censo Agropecuário 2006, divulgado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De criação de abelhas a suínos, passando por cultivo de hortaliças e produção de polpas de frutas, um exército de pequenos agricultores garante alimentação de qualidade nas mesasdos potiguares, além, é claro, de conseguirem seu próprio alimento. “Partindo-se do princípio que o agricultor familiar planta boa parte das culturas para a própria alimentação, sem uso de muito maquinário e sem aplicação de produtos químicos, há uma tendência de ela gerar produtos mais saudáveis”, fala Tarcísio Soares, engenheiro agrônomo e coordenador do Censo no RN. Porém, ele adverte que deve ser feito um cruzamento de dados sobre os produtores e a utilização de produtos químicos para se ter essa relação de forma mais exata.

Segundo o agrônomo, os agricultores familiares produzem “de tudo, um pouco” mas o item que mais se destaca é o arroz: a agricultura familiar é responsável por 90% da produção do RN. Em seguida, vêm feijão (86% da produção), milho (83%) e mandioca (61%). Na pecuária, a criação de suínos representa 75% de todo o plantel do RN. Os bovinos tem fatia de 48% do rebanho total. O tamanho médio das propriedades em que se pratica a agricultura familiar é de 14,69 hectares.

Soares fala que, como a produção em áreas pequenas está voltada principalmente para o mercado interno, costuma-se considerar que o segmento garante a segurança alimentar do brasileiro. Questionado se essa representatividade foi conseguida através de alguma política pública, ele fala que ela não mudou ao longo dos anos. “Não acho que aconteceu uma mudança brusca da representatividade e sim uma maior transparência do que cada grupo produz (com a melhor definição de agricultura familiar). Assim, temos um melhor retrato de quem é essa gente e o que eles cultivam. Mas também é perceptível o apoio que os governos têm dado ao setor nos últimos anos”.

Mais dinheiro para investir

O agricultor José Vicente da Silva trabalha com a família em um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no município de Macaíba, na Região Metropolitana de Natal. “Dentro do sindicato dos trabalhadores rurais de Macaíba, eu aprendi a fortalecer essa cultura de trabalhar, produzir, resistir e seguir em frente”, comenta o agricultor. Em sua propriedade de 1,8 mil metros quadrados, Vicente cultiva milho, feijão, batata doce e macacheira. Quanto às frutas, um dos genros fala que eles vendem “da letra A à letra U”, referindo-se aos sabores, que são 20 no total.

Entre caixas de abelhas do tipo uruçu, jandaíra e mosquitinho, Vicente explica que o mel em sua propriedade é de um exemplar “africanizado”, mistura das abelhas italiana com africana (muito agressiva). O apurado da família fica em torno de R$ 800 por mês, sendo que um terço desse valor vem do mel e o restante das polpas. “Dá para a gente progredir porque não gastamos nada com alimentação”, diz ele. E o progresso está ao lado de sua casa, simbolizado por um veículo Gol, modelo 1989, que custou R$ 5 mil. “O carrinho vai servir para o manejo das abelhas e ir para a feira com as polpas de frutas”, conta, orgulhoso. E ainda faz questão de mostrar a sua “farmácia natural”, apontando para um bem cuidado pé de mastruz.

Opções de venda

Além da venda em feiras e no comércio varejista, uma forma de os agricultores familiares como José Vicente garantirem o escoamento de parte da sua produção é vender para Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), uma empresa de economia mista vinculada ao Ministério da Agricultura. A Conab, através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), seu carro-chefe, estabelece a prática de pagamento de preço mínimo, mais alto do que o oferecido por atravessadores.

“Nós garantimos mercado a um preço satisfatório para o pequeno produtor. Os atravessadores querem colocar o preço lá pra baixo e terminam lucrando muito quando vendem para o comerciante final. Uma prática onde quem termina ganhando menos foi quem produziu, o início da cadeia”, explica o coordenador do PAA, Sebastião Arruda Júnior.

A Conab só compra de organizações regularizadas jurídica e fiscalmente, sejam associações ou cooperativas. As três modalidades de atendimento são a compra direta, que trabalha somente com grãos (milho feijão arroz, sorgo), farináceos (farinha de mandioca) e castanha de caju; a doação simultânea, em que a produção é doada para entidades beneficentes do município; e finalmente a formação de estoque, em que são realizados empréstimos para as associações acumularem os produtos e venderem na entressafra, a um preço mais caro.

O tamanho

1.046.131 hectares é a área de cultivo (32,82% do total)

71.210 é o número de propriedades, cujo tamanho médio é de 14,69 hectares

Como está dividida a produção*

Agricultura:
Arroz – 90%
Feijão – 86%
Milho – 83%
Mandioca – 61%
Suínos – 75%
Caprinos – 64%
Bovinos – 48%
Leite (vaca) – 45%

*Participação do produto no consumo do estado

Fonte: dnonline

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