Está fora de qualquer discussão o prestígio de São José, seja como santo, Chefe da Sagrada Família, seja como intercessor junto aos Céus. Todavia, aqui no nordeste, ele goza de uma justa fama de ser o protetor dos agricultores e criadores, em razão de que o seu dia, 19 de março, é o limite máximo esperado para que comece o inverno. Em suma, o Dia de São José lembra chuva, abundância, fartura e riqueza para todos os nordestinos, sobretudo, para o nosso homem do campo.
Ernani Sátyro, ilustre filho de Patos, ex-governador e ex-parlamentar, escreveu um romance e o intitulou “Dia de São José”, estando ainda inédito, diferente de Quadro Negro e de Mariana, publicados em várias edições. Nesse seu romance, Ernani Sàtyro certamente explora essa relação que existe, ao longo do tempo, entre o Dia de São José e o regime de chuvas no semi-árido nordestino.
O ex-governador, em um comentário que publicou em seu livro “Como se fossem memórias” fez alusão ao dia em que seu Pai, o Major Miguel Sátyro, decidiu mandá-lo estudar no Pio X, em João Pessoa: exatamente no dia de São José, quando a sua cidade natal recebera as primeiras e copiosas chuvas, sinal mais do que evidente de que o ano seria de fartura e muita riqueza para as suas terras. Os insistentes pedidos de D. Capitulina ao Major para que ele, Ernani, fosse estudar, não tinham sido ainda atendidos, exatamente por que essa decisão somente São José poderia dar, mandando chuvas para os sertões da Paraíba, em 19 de março de 1924.
Conclusão: todos nós, aqui no nordeste, temos ou tivemos o nosso Dia de São José, mesmo sem que tenha havido coincidência de datas, entendido essa assertiva como sendo o dia de uma grande decisão, em favor de um sonho ou de uma esperança, seja ela de que natureza for. Esse dia não pode lembrar somente inverno. A isso se deve acrescentar melhoria de qualquer condição de vida; oportunidades de realizações pessoais ou coletivas; início de estudo ou trabalho; união conjugal ou quaisquer outras formas de afirmação material ou espiritual.
Para o major Miguel Sátyro, o Dia de São José representava um marco para que o ano fosse promissor ou não, em termos de inverno e de sustentação econômica. Para o filho, o ex-Governador Ernani Sátyro, o Dia de São José foi a oportunidade para iniciar seus estudos secundários, sem os quais jamais teria chegada à Faculdade de Direito do Recife, decorrendo daí todas as suas demais conquistas pessoais e políticas.
Assim como somos sujeitos a um Waterloo, igualmente, todos temos direito ao nosso Dia de São José, no sentido de que um fato em nossas vidas represente uma inesquecível vitória em nossas legitimas ambições pessoais ou dos outros.
Cada um tem direito ao seu Dia de São José!
No Ceará é assim:
Todos os anos, Sr. Francisco espera ansiosamente pelo dia 19/03, dia de São José. Este dia, além de representar o dia do Padroeiro do Ceará, representa a esperança de um bom inverno a cada cearense e nordestino. De acordo com a crendice popular, se chove em seu dia, não haverá seca no sertão. Caso não chova, Sr. Francisco deverá sair de sua casa com sua família e bichos em busca de um lugar para passar o período sem chuva, próximo ao açude da cidade mais perto de seu casebre.
Sr. Francisco é um sertanejo que mora no interior do estado, há 40 km de Canindé. Para chegar até sua casa, é necessário sair da rodovia principal e seguir por uma estreita estrada de terra, na qual é quase impossível passar com um carro de passeio. Sr. Francisco, D. Maria e seus 5 filhos herdaram essa casa do pai de Sr. Francisco. Eles não têm vizinhança. Criam alguns animais e tem uma cachorra, que por ironia do destino, também se chama Baleia, como a personagem de Graciliano Ramos. É claro que Francisco não sabe nada sobre Vidas Secas, pois nunca frequentou a escola, mas ganhou essa cachorra de um antigo patrão e acha engraçado um cachorro com o nome de um bicho d´água morar no meio do sertão cearense. Ele espera que seus filhos tenham um futuro diferente e faz com que caminhem 10 km por dia para chegar até a escola rural da fazenda de seu ex-patrão. Desde que ficou desempregado, trabalha apenas em sua pequena lavoura. Vive de subsistência. D. Maria lava roupa, de vez em quando, e é com esse dinheiro que compram a carne que comem raramente.
Hoje, dia 19, Sr. Francisco acordou cedo. Ele e D. Maria mal dormiram durante a noite, tamanha ansiedade. Acordou os meninos ainda antes do sol nascer. Se vestiram como em dia de festa. As crianças não entenderam ao certo o motivo da apreensão, mas ficaram ajoelhados em frente ao pequeno altar da sala do casebre, rezando para o santo boa parte do dia. Francisco e D. Maria passaram o dia rezando e olhando para o céu, na esperança de uma nuvem de chuva sequer. No início da noite, D. Maria serviu o jantar. O silêncio dominava a casa. Todos sabiam que devido à ausência de chuva, mais dia, menos dia, deveriam sair de seu casebre em busca de sobrevivência. O sono chegou cedo naquela pequena casa. O cansaço tomava conta de todo mundo. Era preciso dormir. Era preciso juntar forças para buscar um lugar para sobreviver à mais uma seca no sertão cearense...
Fonte: Web
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