O agricultor Expedito Vicente de Medeiros, 81 anos, enxergava bem e nunca precisou usar óculos. Ele trabalhava todos os dias na sua roça, zona rural de Currais Novos, no plantio de feijão, milho e frutas, até que em junho desse ano, descobriu que tinha uma úlcera no olho esquerdo. É a primeira vez na vida que ele enfrenta uma cirurgia. “Ficaria muito feliz se o meu problema fosse resolvido hoje” diz o idoso. A reportagem acompanhou, na manhã de ontem, o seu transplante de córnea na Prontoclínica de Olhos, Zona Sul de Natal.
Beneficiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), graças ao trabalho de conscientização, ele é exemplo do atual quadro que põe o Rio Grande do Norte como segundo no ranking entre os estados do Nordeste e sétimo no Brasil, no número de pessoas que mais doam órgãos e tecidos. Somente este ano, a Central de Transplantes do RN concedeu 192 transplantes de córneas. Se antes, a fila de espera tinha 1,5 mil pacientes, hojeapenas 220 aguardam, em menos de um ano, por uma oportunidade de enxergar novamente.
O médico oftalmologista Marcos Fábio de Almeida Barbosa, 37, responsável pelo transplante de córnea de Expedito Vicente, comenta que o tempo de espera pelo tecido foi de poucos dias. “Já tive um paciente que aguardou cinco anos na fila”, ressalta o médico. Para ele, há um maior número de transplantes de córneas, porque a compatibilidade do tecido é mais genérica. “Qualquer pessoa de 10 até 60 anos de idade, é um potencial doador” fala.
Em relação ao procedimento da coleta do tecido, após o óbito, são necessárias até seis horas para captar a córnea para transplante. “Depois disso, é avaliada a sorologia e se o tecido está saudável. Só então o tecido pode ser recebido por outra pessoa”, diz. Se processado em codições ideais, esse procedimento pode ser realizado em até 14 dias. De acordo com o cirurgião, o tempo do transplante, dependendo do caso, pode durar uma média de 20 a 30 minutos. Nossa equipe de reportagem entrou em contato com o médico Marcos Fábio, ao término da cirurgia do agricultor Expedito Vicente. “Graça a Deus, ocorreu tudo bem. Apesar de estar com infecção e com o olho bem destruído, em cerca de três meses ele vai poder se recuperar do pós operatório”, revela o oftalmologista.
Central
A coordenadora da Central de Transplantes do RN, Fracinete Guerra, afirma que graças ao trabalho de conscientização mais vidas estão sendo salvas. “Estamos zerando a quantidade de pessoas que estão na fila de espera pelo transplante de córneas. E já não temos pacientes que aguardam um transplante de coração” diz. Apesar da estatísticas favoráveis, há dois anos o RN não faz transplantes de fígado pelo SUS, pois sofre com problemas na falta de estrutura – faltam profissionais habilitados e adequeção física – no Hospital Universitário Onofre Lopes. Mesmo assim, a coordenadora comenta que somente este ano, 18 desses órgãos foram doados. “A Central Nacional se responsabiliza pelos casos do RN, mas a maioria desses fígados foram para Recife” explica Francinete Guerra.
De Érika Damásio especial para o Diário de Natal
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