"O sonho, a luta, a vitória"
Alcides de Oliveira Barros, 29 anos, primeiro de quatro filhos de um casal de agricultor da zona rural de Itaú, distante 140 km de Mossoró, foi um dos 24 diplomados como médico na noite de ontem, fruto da primeira turma de medicina da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Uern.
Quem viu a felicidade no rosto do jovem médico, nem de longe imagina as dificuldades vencidas até o momento de receber o tão sonhado diploma.
Estudante da escola pública, agricultor até os 17 anos, Alcides decidiu que com muita luta, o sonho que acalentava desde pequeno, de ser o primeiro médico da família, iria se tornar real e assim o fez.
"Passa um filme em nossa cabeça quando lembro as lutas para chegar até aqui. Para realizá-lo, ainda menor de idade, mudei para a capital, morei na Casa do Estudante, tentei vestibular para Medicina por cinco anos consecutivos e passei por momentos nunca imaginados. Mesmo parecendo quase impossível, ele se torna real", comemorou o médico, enquanto era adorado pelo pai, Alcides de Oliveira Barros, agricultor, que não escondia a emoção de ver o filho mais velho recebendo o diploma de médico.
Assim como Alcides, outros tantos ali presentes concretizavam o sonho de suas vidas.
A palavra realização deu o tom dos discursos. "Hoje entregamos a Mossoró 24 médicos que, não aprenderam apenas a arte da medicina, mas a arte das relações humanas. Profissionais que saem desta universidade, preocupados com o outro e formados para diminuir o sofrimento daqueles que necessitam", disse o diretor do curso de Medicina da Uern, Antônio Leite.
Em sua oração a representante da turma, Michele Amaral, relembrou a primeira expressão ouvida pelos alunos, ainda na aula inaugural do curso. "A primeira expressão que ouvimos ao ingressar na faculdade de medicina foi: o sonho, a luta, a vitória. Sem saber, o então reitor Walter Fonseca dava o nome a essa turma de 24 escolhidos para fazer história em uma cidade histórica", discursou a formanda.
A deputada Sandra Rosado, destacou a importância de tantos que contribuíram para a realização desse marco. "Pessoas como Chagas Silva, que chegou a dormir na obra da faculdade de medicina, para que o prazo fosse cumprido. Sinto bater forte o coração da terra de Santa Luzia e fico feliz em ver os frutos de uma árvore que ajudei a regar", disse a deputada.
A paraninfa da turma, Maria Auxiliadora, visivelmente emocionada, destacou o misto de alegria e tristeza que contagiava a comunidade acadêmica por deixar ir, aqueles que durante seis anos e meio aprenderam a amar e respeitar. "Confesso que ao mesmo tempo em que me orgulho de vê-los formados, entristeço-me por saber que não mais terei o sorriso de vocês nos corredores da faculdade. Lembrem-se sempre que para vencermos qualquer adversidade da vida é preciso saber lutar.
Estarei sempre aqui para ouvi-los quando precisar e para contribuir com o crescimento profissional de cada um de vocês, a quem me orgulho de chamar de afilhados", destacou emocionada, no momentoem que levava os formando as lágrimas.
O sentimento de dever cumprido era compartilhado por todos que fazem a universidade. Do mais simples ao mais titulado. "Estou desde o início acompanhando toda trajetória como se fosse um livro. Hoje vejo a história ser contada com um final feliz", comemorou a secretária geral do curso de medicina, Allyssandra Rodrigues.
Citando Vinícius de Morais, o ex-reitor da Uern, Walter Fonseca, fez um discurso, emocionado e cheio de lembranças vivas na memória de quem acompanhou todo o processo de instalação do curso de medicina. "Eu sei que vou chorar, a cada ausência sua eu vou chorar, mas cada volta sua há de apagar, o que essa ausência sua me causou...", declamou.
Walter, relembrou as barreiras que teve que escalar para tornar real o sonho de todos presentes naquela solenidade. "Quando decidi que, como reitor da Uern, não mediria esforços para implantar o curso de medicina em Mossoró, fui tachado de louco. Quando ouvia as críticas daqueles que não acreditaram nesse sonho, pensava que louco até poderia ser, mas acreditava que um dia seria feliz com a realização dessa loucura. E é assim que me sinto hoje, ao olhar para cada um de vocês e ver que o sonho e a luta, foram transformados em uma grande vitória. Hoje a nossa universidade entrega ao mundo, 24 médicos made in Mossoró", disse Walter Fonseca, ex-reitor da Uern epatrono da turma.
Milton Marques de Medeiros, reitor da Uern, encerrou a sessão parabenizando os alunos por serem os transformadores da história. "Feliz somos nós que concretizamos esse sonho, que era de toda Mossoró. Hoje presenciamos o topo, o ápice, o último capítulo de um sonho vivido por muitos e realizado por vocês, os 24 escolhidos para mudar a história da Uern e de Mossoró", finalizou.
Fonte: Jornal Correio da Tarde